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O CALOTE FRANCÊS E O NASCIMENTO DO MITO.
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Coleção John Wayne
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Recentemente adquiri a Coleção John Wayne (acima) num desses supermercados estrangeiro e levei um calote. A coleção acima têm 4 filmes do mito do cinema americano: Fúria no Alasca, A Grande Jornada, Jamais Foram Vencidos e Os Comancheiros. Este último, Os Comancheiros, está com defeito, pois após 50 minutos, o DVD trava e não tem prosseguimento. Tentei de tudo e nada. Como tenho o péssimo hábito de não guardar o tiket do caixa, não foi possível ser efetuado a troca. Mesmo eu provando pela embalagem de que eu havia comprado naquele local. Tudo bem. É assim que é e é assim que estas empresas procedem. Ou não compro mais neste supermercado francês ou guardo o tiket!
No entanto, a minha consternação não chegou a ser tão grande assim; pois comprei a tal coleção apenas para adquirir o filme A Grande Jornada. O primeiro filme de destaque que lançou John Wayne, já que os outros filmes são apenas medianos ou sem grande importância para a história do cinema, principalmente o cinema sobre o velho oeste, e , também quase sem nenhuma importância na filmografia do grande Duke. Porém, A Grande Jornada merece algum comentário; além do que, faz parte da nossa coleção.
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A Grande Jornada
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No link da ficha técnica do filme, a sinopse diz o seguinte: "Nesta arrebatadora aventura dos pioneiros, um jovem e corajoso guia (John Wayne) conduz milhares de colonos por perigosos despenhadeiros, cruéis tempestades de neve, ataques de indígenas e estouros de manadas de búfalos, levando-os a seu destino no oeste distante. Durante a viagem, ele se apaixona por uma linda pioneira (Marquerite Churchill), e nunca desiste de tentar ganhar seu coração".
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Bem, esta é a sinopse que encontramos em todos os livros, revistas, sites e guias de cinemas. E é verdade, assim é a história. Encontramos também nestes mesmos manuais geralmente a cotação 3 estrelas ou até mesmo 2 estrelas, dando a entender que o filme é regular ou mesmo ruim. O que não é verdade. Os críticos, então, são cruéis, e normalmente dizem que o filme de Raoul Walsh foi um grande fracasso de público e crítica. O que, segundo certo ponto de vista, é verdade. No lançamento do filme, pouquíssimas pessoas assistiram à saga do jovem Duke. E a crítica não perdoou as interpretações caricaturais com expressões e movimentos faciais exagerados. Porém, cada ponto tem um ângulo diferente a ser observado. Pois, apenas um ponto de vista não condiz com a totalidade de todos os ângulos que desnudam e revelam a verdadeira face do que se observa ou do que se comenta. Vejamos um pouco mais de perto esta bela e pioneira saga ao velho oeste americano: O fracasso de público nos cinemas foi pela falta de visão da Fox que realizou o filme em 70mm (tela larga), o que inviabilizou a sua exibição na maioria dos cinemas americanos que utilizavam a tela menor (35mm). É preciso entrar no contexto histórico e saber que a Grande Depressão Americana estava no seu início e os donos das salas de cinemas não tinham condições de adequar-se as novidades do mercado cinematográfico. É lógico que a Fox se apressou, e não foi tão rápida assim, em produzir uma versão em 35mm e lançar no mercado para tentar recuperar o dinheiro investido, mas foi tarde e o fracasso comercial era irreversível. Naquele tempo não existia vídeos nem DVD nem nada. Não foi possível utilizar, o que hoje em dia é comum, o recurso de recuperar um provável prejuízo com um bom trabalho de marketing nas vendas do produto em VHS e DVD. Quem assistiu, assistiu! Mais grave é a posição adotada pela crítica. O que eles esperavam ver naquele que era o mais caro faroeste feito até aquela data? Será, talvez, por este delírio que os críticos normalmente têm, de ver algo diferente daquilo que estavam acostumados a ver? O que na verdade eles viram, foi a continuação natural da história do cinema! Ora, o recém cinema falado tateava às cegas na novidade inaugurada pelo Cantor de Jaz e não podia ser muito diferente do cinema mudo e do teatro. Pois o exagero nas expressões faciais e as caricaturas eram comuns no teatro e no cinema mudo, e os atores em questão não poderiam fazer algo muito diferente disto. Muito mais grave ainda, é os críticos (e falo dos críticos profissionais) de hoje, não levar em conta este contexto histórico cinematográfico e simplesmente taxar este ou qualquer filme da época de ruim (é lógico que foram feitos muitos filmes ruins!) pelo simples motivo de não atender os quesitos da cinematografia atual. É um absurdo!! Porque não dizer, uma burrice e uma ignorância total da evolução natural da história do cinema. É lógico que existem bons e honestos críticos, mas é raro. O que penso é que existe uma completa falta de boa vontade da crítica mundial de hoje para saber dar o relativo valor a uma obra equivalente a época em que foi realizada e as condições do seu tempo.
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O que sobra (ou o que sobrou), afinal de contas, é o filme, que hoje em dia pode ser adquirido para o deleite de uns ou a aquisição por outros como um patrimônio mundial da cinematografia sobre os pioneiros americanos do velho oeste (isto é, os colecionadores!). O que importa é que o filme sobrevive, enquanto muitos dos seus detratores já não existem. Uma prova que uma obra por pior que seja é imortal, o que não é este o caso.
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Dito tudo isto, vamos olhar com sinceridade paro o filme: Certamente, A Grande Jornada não é nenhuma obra-prima, há erros técnicos na geografia apresentada na história, há o engatinhar de um gênero que estava se formando e o quase amadorismo nas interpretações dos atores; mas é um dos filmes pioneiros sobre a difícil vida dos colonos americanos em ocupar as terras em seu próprio país. É claro, os indígenas já viviam na região bem antes dos colonos e também tinham direito às terras; mas isto é uma questão que outros filmes iriam discutir no futuro.Também é verdade que Raoul Walsh não era nenhum grande mestre do cinema sobre a arte de retratar o oeste, comparado a John Ford, por exemplo, mas na sua época fez este épico visualmente espetacular. Os grandes mestres do gênero, e entre eles, o maior de todos, o próprio John Ford, fizeram filmes memoráveis; mas nenhum, jamais, conseguiu fazer um filme igual ao filme de Walsh. Um filme que prende a atenção do espectador, que torce pelo mocinho e pela mocinha contra os ferozes indígenas e os vilões da história. Aos fãs do gênero recomendo este que foi o filme em que o jovem Duke, ou Marion Michael Morrison passou-se a chamar John Wayne e viria nas décadas de 40 e 50 transformar-se num mito, numa lenda viva do velho oeste americano. Tanto que o mito saiu das telas e em 1970, num referendum popular, foi considerado o segundo homem mais importante da História Americana, ficando atrás apenas de Abraham Lincoln.
Muito embora, desde 1926 tenha trabalhado no cinema (a maioria em pequenos papéis, pontas, dublês, etc.), foi no filme A Grande Jornada que seu nome foi lançado e a arrancada começou. Aliás, aos fãs do gênero e, principalmente de John Wayne, este fato merece uma melhor explicação, muito embora rápida e resumida: John Wayne nasceu como Marion Michael Morrison, recebeu o apelido, ainda menino, de Duke, por causa do seu cachorrinho, um terrier airdale, que também se chamava Duke (ambos eram inseparáveis). Jogava futebol americano na Universidade do Sul da Califórnia quando foi levado em 1926, pelo seu ídolo do cinema, Tom Mix (Tom era fã do futebol americano), para trabalhar como faz-tudo nos estúdios da Fox. E lá conheceu muita gente importante do cinema, inclusive John Ford! Um dia Raoul Walsh perguntou a John Ford se ele conhecia alguém para lhe indicar para o papel principal de A Grande Jornada. O carismático diretor disse-lhe que o jovem Duke poderia fazer o papel. Walsh olhou para o jovem alto que caminhava pelo estúdio e gostou dele. Mas quando ouviu o nome Marion Michael Morrison disse que aquilo não era nome de herói. “Você tem cara de Wayne” (isto porque ele acabara de ler um livro sobre o general Anthony Wayne) – disse ao Duke, e acrescentou John e assim nasceu o mito, assim nasceu a lenda chamada John Wayne.
A Grande Jornada é, por direito, mesmo com todos os problemas e defeitos, um clássico do gênero e John Wayne é o herói que representa o romantismo os árduos tempos da colonização americana.
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Saiba mais sobre John Wayne em O Centenário de um Mito (26 de Maio de 1907 - 26 de Maio de 2007) e conheça um pouco mais sobre cem anos de uma história dedicada ao cinema!